terça-feira, abril 21, 2009

Cabeça de Cuia


Parafraseando nosso amado(???) ex presidente Fernando Collor de Melo: Minha gente!!!

Hoje vamos continuar com nossas lendas urbanas (ou rurais?) brasileiras. Dessa vez me interessei pela nossa cultura piauiense. Vamos pro Nordeste!

Piaui é um belo Estado, quente pra dedéu, mas bem suprido de belezas naturais como o Rio Parnaiba, a Serra da Capivara e a Antonia Fontenelle.

Para nossa história vamos viajar para Teresina. Se você mora por aí não precisa nem sair de casa. Vamos mais especificamente para um bairro chamado Poti Velho. Agora que estamos aqui precisamos regredir no tempo. Entrem no meu Delorean (se não sabe o que é isso precisa estudar mais cultura inútil), se acomodem enquanto eu registro no visor analógico a data correta e ...Aqui vamos nós!

Ok...Após as delirantes explosões típicas da viagem no tempo, aqui estamos nós. O bairro Poti Velho ainda é uma Vila de pescadores à beira do Rio Poti. Lá vivia nosso personagem principal, o Crispim.

Crispim era uma dessas pessoas que parece ter sido esquecida por Deus. Seu pai, pescador, morreu cedo deixando mulher e filho na miséria. Crispim tentou seguir o caminho paterno e se aventurava na pescaria. Infelizmente ele não era muito bom nisso. Sua mãe, adoenteada eternamente, não podia trabalhar e ficava apenas cuidando do pequeno barraco em que moravam.

Sentimentos bons as vezes somem rápido do nosso corpo, mas sentimentos ruins acumulam...E um dia explodem. Foi isso que aconteceu naquele dia maldito. Crispim passou o dia inteiro no Rio Poti e não conseguiu pegar nem um lambari( se é que tem lambari nesse rio). Na verdade o mais perto que ele chegou de pegar foi uma gripe.

Agora imaginem, um garoto frustrado com a vida, com sentimentos de ódio acumulados na mente e passa o dia inteiro sentado num pequeno bote, com fome. Teve tempo de sobra para pensar. E, como diz o dito popular, "mente desocupada, oficina do diabo".

Crispim volta para casa a beira de explosão mental. Tudo que ele quer é comer e dormir, encerrando aquele dia maldito. Ao chegar em casa, vai direto pra cozinha e descobre o menu. Sua pobre e adoentada mãezinha , sem nenhuma opção na prateleira, fez o que pôde. Uma rala sopa com ossos de boi que conseguiu no açougue.

Foi a gota que faltava para transbordar o copo de fúria de Crispim. Quase sem pensar, o garoto partiu pra cima da mãe segurando um dos ossos da sopa e começou a agredi-la violentamente. Foi um massacre! O sangue voava pelas paredes do barraco e os poucos dentes da velha foram ao chão.

O que Crispim não sabia é que sua mãe também ficava o dia todo sem fazer nada e sua mente deve ter procurado formas legais de se distrair pois, aparentemente ela fez algum curso de bruxaria.

Antes de falecer a velha recitou algumas palavras esquisitas e amaldiçoou o filho. A praga violenta que a mãe rogou faria Crispim se transformar num monstro aquático morto vivo até que conseguisse matar sete mulheres com o nome de Maria. E para dificultar mais ainda a coisa ela exigiu que as Marias fossem virgens.

Crispim, vendo o corpo de sua mãe estirado ao chão e o sangue escorrendo pelas suas mãos, entrou em desespero e saiu correndo em direção ao rio. Se jogou e não resistiu. Lentamente foi sendo arrastado ao fundo enquanto uma transformação remoia seu corpo. Seus cabelos cairam e sua cabeça começou a inchar. Seu dentes destacavam-se da boca dando lugar à presas afiadas. Seus olhos tornaram-se vermelhos como sangue e nadadeiras surgiram em seus dedos.

Assim começou a Lenda do Cabeça de Cuia. Alguns dizem que ele só aparece a cada 7 anos para tentar sua cota de Marias. Outros dizem que só aparece na lua cheia. Como toda lenda, ela tem várias versões, mas todas são concisas no mesmo ponto. O monstro vaga pelos rios Poti e Parnaiba dia e noite esperando os incautos para servirem de alimento. Ele mata quem quiser, mas só se libertará da maldição quando devorar 7 Marias virgens.

Como a lenda é muito antiga das duas uma. Ou não tem muita mulher com o nome de Maria na região ou...

Bom...O fato é que até hoje ele não conseguiu devorar essas virgens e passa seu tempo virando barcos matando desavisados. Não é dificil encontrar pescadores que jurem que viram uma grande cabeça calva flutuando próximo a suas embarcações. Muitas mães centes na lenda não deixam suas filhar se aproximar do rio em tempo de cheia.


Curiosidades

  • A lenda é tão famosa na região que em 2003 foi instituido o Dia do Cabeça de Cuia, sendo celebrado na última sexta feira de Abril.

  • A foto acima é o Monumento ao Cabeça de Cuia e se localiza na entrada do Parque do Encontro dos Rios e é obra do artista plástico Nonato Oliveira. Podem notar que o monstro segura em uma das mãos o osso que usou para agredir a mãe. Ao redor dele existem 7 mulheres representando as Marias.

4 comentários:

O Gajo disse...

isso ai chefe, continue o excelente trabalho, nunca desista do blogger,sempre super show.

Bárbara disse...

Cráudio, não cohecia esse diabo aí não... credo! Ainda bem que não me chamo Maria ~~

Wacco disse...

Minha avó é Maria, só não é virgem (ou é?) =P

Abraços Boss!

Mônicats disse...

Maravilhoso.. adorei ler tudo isso com tua digitação Chefe